Segundo o dicionário, desperdício significa despesa ou gasto exagerado, esbanjamento, uso sem proveito, perda. É isso que vem acontecendo com a produção alimentícia em todo o mundo, mais de 30% da produção mundial de alimento hoje não vai pro prato de ninguém. No ano de 2020, foram contabilizadas mais de 800 milhões de pessoas que passam fome, além das que, por algum motivo, não estão inclusas nesses dados. Como é possível se tem tanto alimento indo para o lixo todos os dias?
Cerca de um terço de todos os alimentos é desperdiçado durante o processo de corte, colheita, manuseio, no varejo e atacado, no transporte, no armazenamento ou apodrece na casa do consumidor. Muitos alimentos são jogados fora e tratados como lixo quando não são, o desperdício além de ser uma categoria imoral, é falta de ética e de respeito, não só com o meio ambiente, como também com a humanidade, é fruto da ignorância e da falta de consciência e do olhar para o Planeta e para o outro, uma vez que a fome é a primeira forma de indignidade que uma pessoa pode ter. No Brasil, existe a cultura do “antes sobrar do que faltar” que, além de ignorante, gera descaso na perda por um excesso completamente desnecessário, ninguém precisa de mais nem menos e sim o ideal. Não é preciso explorar de forma predatória a produção de alimento e sim trabalhar de forma correta com tudo que já é produzido e gerar comida para todo mundo.
Os dados apontam que, de toda a produção alimentar no mundo, 10% se perde na colheita, 50% entre o manuseio e o transporte, 30% nas centrais de abastecimento e 10% em supermercados, enquanto alimentação corresponde à 50% dos temas abordados pela ONU (Organização das Nações Unidas), esses dados além de tristes são incoerentes. Como o maior problema da ONU é a alimentação, se tem tanto sendo desperdiçado?
Para a produção alimentícia ser sustentável, é preciso ser eficiente, é necessário encontrar meios de distribuição igualitária e de consumo consciente.
Ações básicas como reciclagem de resíduos, economia circular, diminuição no consumo de água e energia contribuem para um mundo melhor, mas não resolve enquanto a sociedade não tomar consciência de consumo, não só consumo alimentar, mas também de bens. Moda, redes sociais, propagandas, insatisfação pessoal, influências, falta de conhecimento, de autoconhecimento e de empatia estão fazendo com que cada vez mais o público consuma sem se questionar se realmente precisa, se é útil, se vai usar, porque comprou, quem produziu ou como descartar depois. A sociedade está caminhando, cada vez mais rápido, para um lugar aonde não queremos ir. Se nós fazemos parte do problema, cabe a nós também sermos parte da solução, fazendo escolhas conscientes, individuais e coletivas para melhorarmos o cenário em que estamos vivendo. Nós somos a última geração que podemos começar a mudar isso antes que seja tarde demais, precisamos pensar nas gerações futuras. É nosso papel como comunidade cobrar do Estado o posicionamento ideal na participação da proteção alimentícia, pois é ele quem recolhe os impostos e quem deve dar um destino social para isso. Quanto mais resíduos e orgânicos são tratados como lixos, mais os lixões contaminam o ambiente e o solo e maior a necessidade de reparação deste dano e isso também é papel do poder público e nós, como contribuintes, precisamos reivindicar isso, escolher bem os nossos governantes e ter consciência de voto para que questões como essas sejam pautadas.
A cultura do desperdício faz com que joguemos fora o amanhã pensando no agora, a sede de ter e consumir cada vez mais está nos levando para um colapso, precisamos aprender a consumir na medida exata da nossa necessidade, é preciso criar o hábito do questionamento, saber quem produziu o que estamos consumindo, ter essa aproximação com quem põe a comida na nossa mesa, comprando de produtores locais, gerando dinheiro para agricultura familiar pois, além de deixarmos de consumir grandes quantidades de agrotóxico, contribuímos para o crescimento exponencial da nossa comunidade.
A sustentabilidade é uma condição necessária para a sobrevivência no Planeta Terra e todo mundo precisa ser responsável pelo seu lixo, pela produção de resíduos e pelo seu descarte.
Na medida em que todos têm esse comportamento e essa mudança de hábito, todo mundo cresce, o que não pode continuar é o costume de deixar tudo na mão de poucos, enquanto os demais não se preocupam com nada.
Reciclagem significa trabalho e renda para milhares de famílias, reciclagem além de sustentável é sustento. Os catadores têm um papel social enorme, o que precisa é reconhecimento dessa classe, a conscientização de que resíduo não é rejeito e que rejeito é aquilo que não dá pra aproveitar e que misturar resíduo e rejeito, com tanta gente passando fome e com o planeta não tendo mais o que fazer com tanto lixo, é inescrupuloso.
Estudos mostram que o descaso com a sustentabilidade inviabilizou terras que antes eram produtivas e hoje não são mais. Hoje, os agricultores estão mais conscientes de que o manejo sustentável da água e do solo, além de gerar economia, melhoram os seus negócios, uma vez que desperdício gera custo e quando falamos em custos, embutimos no desperdício o valor do alimento + perda da produtividade por perda da cognição + gastos com saúde + impacto negativo no meio ambiente + desperdícios de insumos + custo efeito estufa + custo do lixo. Ou seja, o preço do desperdício é caro demais.
A abundância é um dos fatores que contribuem para o desperdício, pois quanto mais se tem, menos se preocupa em cuidar daquilo que realmente precisa, ou das pessoas que mais necessitam. Só desperdiça quem tem sobrando e o ideal não é sobrar nem faltar para ninguém, pois todo mundo tem direito a satisfação alimentar. Este é um dos pilares da Realixo, levar dignidade para os catadores para que possam ter uma vida menos injusta, conectando produtores locais com pessoas que se interessam por alimentação saudável, coletando e destinando corretamente os resíduos sólidos e orgânicos.
Se você faz parte desse grupo de pessoas que se interessam em ter uma vida mais leve com menos desperdício, se inscreva no nosso site e veja se já estamos presentes onde você mora.
Junte-se a nós e venha fazer parte dessa mudança. Juntos somos mais fortes.